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Como é ser indígena mulher em contexto urbano?




Sou Luciene Kaxinawá, do povo Huni Kui (PovoVerdadeiro), tenho 27 anos e até hoje foram incontáveis as vezes que ouvi frases como:  “você tem cara de índia” ou quando me invalidam, “você não tem cara de “índia”, ou pior, “saiu da aldeia, não é mais “índia”.

 

 

Chegaram a me criticar quando pintei os meus cabelos pretos por loiros e fiz procedimentos estéticos. Quando falo sobre as críticas, as duras palavras duras vieram do meu povo e dos Nawá (pessoas não-indígenas). Só não sabiam que as mudanças foram uma tentativa de me livrar da imagem de uma indígena mulher que sofreu diversos tipos de abusos.



 

O Brasil registrou no ano passado, 2.423 casos de violência contra nós, mulheres, sendo que 495 terminaram em morte. Agora, ser uma mulher jovem e indígena, é um desafio ainda maior. Quando falamos do profissional, por exemplo, quantas de nós vocês já viram ocupando cargos de liderança? Segundo o IBGE As mulheres ocupam somente 38% dos cargos de liderança no Brasil.  Para minha formação profissional também foi difícil, pois eu não tinha referencias de indígenas na televisão, tive que construir um caminho solitário e de muita luta para ocupar o lugar de primeira indígena jornalista da TV brasileira.

          Morotin Metracop Clarice Cao Orowaje Canoé/ Arquivo pessoal


Em conversa com a parente ( assim que nós indígenas nos tratamos), Morotin Metracop Clarice Cao Orowaje Canoé, ela me disse que “Ser mulher indígena no contexto urbano é desafiador por uma sociedade que lhe impôs a o que a convém  por que a sociedade não indígena não quer saber quem  é você.  Todos os dias temos que lutar por aquilo que queremos e acreditamos o nosso pensamento não é individual e sim coletivo. Temos que ser forte por nós e pelos outros isso é ser uma mulher indígena no contexto urbano.” Afirma.

E completou ainda falando sobre o principal desafio enfrentado pela indígena mulher. “ O nosso maior desafio é o preconceito, se inserir na sociedade onde nós somos invisíveis, o nosso município é um município (Guajará-Mirim/RO) onde também não nos oferece nada saúde,educação e infraestrutura, o nosso desafio também é adentrar nas políticas públicas”. Diz Morotin.

Por muito tempo deixei que a opinião do outro interferisse na minha vida e consequentemente isso me criou sérios prejuízos psicológicos . Hoje, depois de muitos fatores, trabalhos  e acontecimentos diversos, me cuido da depressão e ansiedade que insistem em fazer parte do meu dia a dia. Mas me lembro que sou mulher, sou indígena, e não irei mais permitir que desarrumem A MINHA MENTE.

Muitas pessoas julgam indígenas como incapazes e se surpreendem quando fazemos coisas comuns que outras pessoas também façam como, estudar, morar em cidade grande, se formar e trabalhar como médicos, jornalistas, falar a língua Portuguesa ou inglês, ouvir diversos tipos de músicas. NÃO deixamos de ser INDÍGENA, pelo fato de morar na cidade, estudar ou querer mudar a cor do meu cabelo, ser indígena é questão de identidade, história, cultura e ancestralidade.  O que precisa ser feito são políticas públicas em prol de mulheres, que defendam a vida, acesso simplificado a atendimento médico, incentivo de capacitações, entre outras medidas politicas e sociais. Somos seres humanos! Precisamos e merecemos respeito de todos!

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